Foi num dia de sol, um domingo, final de carnaval, em fevereiro de 2016, que o coração do primeiro amor da minha vida, com 41 semanas de gestação, parou de bater dentro de mim… E o que é o pior de tudo: parou porque ela entrou em sofrimento fetal, por não nascer na hora certa! Eu sofri negligência médica do SUS, porque a médica de plantão me mandou ir embora, por falta de dilatação.
O meu pré-natal foi particular, mas o meu parto, que iria ser normal, pois escolhi assim, dependia da saúde pública. Sim, fui vítima de uma saúde pública precária, que mata diariamente, por negligência médica. Eu pari minha filha morta e, nesse momento, eu morri junto com ela e vi um filme da minha vida até ali.
Eu, que sempre tive medo da morte, naquele dia, não podia e nem queria permanecer no mundo sem a pessoa mais importante da minha vida! Eu queria ir com ela: “Meu Deus, porque não me levou também, quanta dor que é perder um filho”.
Eu pensei que não iria aguentar, eu tinha morrido de alma e pedi pra Deus me levar de corpo. Eu implorei, não iria mais sobreviver à ausência, ao rancor em ter sofrido tamanha negligência, ao ódio da minha obstetra por não estar comigo (porque eu não iria pagar o parto, portanto, ela não poderia fazer nada, se no dia que fui ao hospital com dor não era o dia do seu plantão) e à dor de perder um filho. Era demais para mim, iria sucumbir. Eu iria dar trabalho para a minha família com tratamento psiquiátrico e não iria mais conseguir trabalhar, porque parei a minha vida naquele dia, afinal estava viva apenas de corpo, mas tinha morrido junto com ela naquele domingo de sol de final de carnaval…
Mas, com a ajuda de grandes e verdadeiros amigos, família e o pai dela, que sofreu junto comigo, mas teve que ser forte pra gente não cair junto, consegui viver dia após dia sem ela, um dia de cada vez eu fui sobrevivendo até o dia em que renasci, dois anos depois, com uma segunda gestação, que hoje completa 28 semanas (7 meses), faltando 86 dias para o parto de uma segunda menininha. Sim, estou grávida do segundo amor da minha vida!
Hoje, eu já aceitei o porque Deus não me levou junto com a minha primeira filha. Ele já havia me destinado uma outra filha, com propósitos que são difíceis de entender, mas abençoada pelo amor mais sublime e único da maternidade.
Nossa, como senti com você essa dor ao ler seu depoimento. Perdi minha filha a oito dias para uma enterocolite desenvolvida na UTI neonatal. Ela nasceu de 33 semanas e fomos presenteados com um amor infinito por 12 dias. Ela estava de baixo peso, todo mundo via isso pela barriga pequena da minha esposa, menos o obstetra, para quem tudo sempre estava normal. Ainda estamos arrasados pela perda e eu com a culpa de não ter trocado o obstetra da minha esposa. É duro, muito duro ter perdido a nossa Elisa!