Qual é a medida do sofrimento? Quais são os motivos que se pode sofrer?
A sociedade lista àquilo que você pode chorar e àquilo que é “normal” e você não deve sofrer. E o aborto espontâneo está nessa lista do “normal”.
Quando engravidei pela segunda vez foi uma imensa alegria. Eu sabia que aquela sementinha tão pequenina ia se transformar numa linda ou num lindo garotinho. Mas eu perdi. Perdi meu filho, meu sonho, minha expectativa. E fui silenciada pelos familiares e amigos. Afinal, era tão pequeno, o tempo foi tão breve. O que tinha em meu ventre não era nada. E eu acreditei. Acreditei que não poderia sofrer e me calei. Engoli meu choro, minha frustração, meu grito.
Eu engravidei outras 3 vezes e perdi todos eles.
O segundo bebê que eu perdi foi o mais difícil, o desenvolvimento dele estava muito lento, no fundo eu sabia que ele não viveria tanto tempo, mas ele foi guerreiro. Fazia ultrassom e ele estava lá, lutando pela vida. Até que uma manhã, acordei com dores fortes, logo as contrações ficaram regulares e eu o perdi depois do almoço no chuveiro de casa. Eu estava com 9 semanas e ele ainda tinha o tamanho de 6 semanas.
E mais uma vez minha dor foi silenciada. Não tive apoio, não tive colo, não me senti amparada e acolhida. Meus abortos eram tabu. Ninguém falava e não me deixava falar. Sempre escutava: mas você precisa relaxar!
Com a ajuda do Grupo SobreViver consegui me impor, falar sobre meus abortos abertamente e chorar sem ter vergonha. Meu sofrimento não era bobagem. Quatro filhos meus se foram e não estão aqui.
Pra um bebê ser grande, ele precisou ser pequeno primeiro. Eu os amei desde o positivo!
Por acaso você não amou seus filhos desde que descobriu que estava grávida??
Eu só peço empatia…