A morte de algum parente (irmão, primo, pais, avós ) ou pessoas próximas traz uma ebulição de sentimentos para qualquer um. Enfrentar o luto é superar a tristeza, a falta da pessoa, o medo e a insegurança frente a vida.
Para as crianças o luto é muito mais complexo e confuso, pois nem sempre elas entendem a morte ou o que elas estão sentindo (como já disse aqui algumas vezes, as crianças não conseguem descrever os sentimentos como nós, adultos, descrevemos). Assim, os sentimentos das crianças podem oscilar da confusão para a tristeza, da agressividade para a culpa, tudo em questão de dias ou, até mesmo, horas.
A maneira com que os pais respondem a tristeza da criança faz a diferença frente a superação do luto. Quando o adulto finge para a criança que tudo está ótimo, esconde que está chorando e que está triste, tende a deixar a criança mais confusa, pois assim o adulto nega algo que a criança sente no ambiente (ela percebe a tristeza, mesmo quando não está explícita).
Por isso, o melhor a fazer é conversar sobre a perda, falar que todos estão tristes e deixar a criança colocar o que sente. Tente lembrar das boas memórias em relação a pessoa que faleceu, mas não negue a tristeza de não ter a presença do ente querido.
Seguem algumas dicas para ajudar a criança no processo de luto:
1- É importante outras pessoas que lidam com a criança tomar conhecimento sobre o falecimento do ente querido da criança. Portanto, professores e a escola devem ser comunicados.
2- É importante que aos poucos a criança retorne a escola. Converse com professores e coordenadores e sinta a necessidade da criança. Talvez nos primeiros dias seja dificil frequentar a escola, ou ficar todo o período. Converse com os profissionais da escola sobre o que pode ser feito para o acolhimento da criança. Veja se há possibilidades da professora promover alguma atividade que aborde o luto (por isso a necessidade das aulas com educação emocional).
3- Mantenha a rotina da criança como antes. Modificar o dia-a-dia da criança irá causar mais insegurança e medo, o que podem dificultar a superação do luto. Mesmo que no início seja impossível manter a mesma rotina, adapte para que seja mais parecida com que era antes.
4- Tire algumas horas do dia, ou da semana, para conversar com a criança sobre o que ela tem sentido, sobre a perda e sobre a pessoa que se foi. Peça para ela fazer um desenho, isso além de acalmar, facilita a elaboração do luto. Por mais difícil que seja, é importante mostrar que a vida continua e que a morte é algo inevitável.
5- Preste atenção nas datas comemorativas. Algumas datas evocam o luto, por isso é ideial prestar atenção na criança. Nas datas como: natal, aniversários, páscoa, dias de pais e mães, converse com a criança sobre o que ela sente e pense em maneiras de passar a data da melhor maneira possível.
6- Histórias que abordam a temática morte. Ao ler a história para a criança, ela estará elaborando o processo de luto. A leitura também pode ser um meio da criança expor seus sentimentos e conversar com o adulto sobre o luto.
Algumas histórias (filmes) conhecidas abordam o luto como: O Rei Leão, Procurando Nemo e Up- Altas aventuras. Assista o filme (ou leia o livro) com a criança e depois peça para ela fazer um desenho e explicar o que fez (se possível dê ênfase na perda).
Com meus pacientes costumo usar o livro: “Quando alguém muito especial morre” – Editora Artmed.
O livro inteiro é feito para criança completar e explica todo o processo da morte de forma natural. Porém, não pode ser feito de qualquer jeito, é necessário seguir algumas etapas e pecisa estar atento a criança, já que o livro evoca vários sentimentos. Indico o livro para os meus colegas, psicólogos.
O luto é algo natural após perda de ente querido e não é uma patologia. Por isso, aos poucos a vida deve entrar nos eixos novamente. Caso isso não aconteça, ou a família esteja com dificuldades de lidar com o processo, procure um psicólogo, pois ele além de orientar também irá trabalhar para que todos passem pelo luto de maneira saudável.
Minha neta de 7 anos viu o avô materno infartar, ajudou a vó a conseguir socorro para levá-lo ao hospital. Lá ele foi reanimado, mas deu outro infarto e veio a óbito. Ela foi criada pelos avós maternos, em campanha, lidando com animais, no interior do RS. Isso aconteceu dia 02/10/2020. Ficou comigo desde a noite de 6a até o domingo. Perguntando pelo avô seguidamente. Não fui autorizada pela mãe dela a falar da morte dele, mas fui preparando o terreno para que isso fosse feito. Domingo à tardinha ela foi pra casa deles e falaram que ele havia ido para o céu, virado estrela. Ela disse ah, ta… E seguiu brincando com uma amiguinha que a esperava. Não chorou, mas pergunta a toda hora por ele. Mesmo o pai dela (meu filho) sendo um pai presente, o avô foi a figura paterna que ela teve maior convivência. Uma hora a ficha dela vai cair… E aí? A vó, mãe e demais familiares não são do tipo emotivo, carinhoso. Com a família paterna é diferente, somos muito amorosos com ela, que prefere estar conosco.